domingo, 19 de abril de 2009

JORNAL MOTORISTÁXI Nº 9

JORNAL MOTORISTÁXI 9


JOVEM CASAL
Duas horas da manhã, um casal de jovens, aparentemente educados e bem vestidos, muito embora com um vasto grau de embriaguez, entraram no seu táxi após muitos colegas (compreensivelmente) se terem negado ao serviço.
-Para a cidade da Maia (diz Ela)
Vão os dois muito calmos, Ele vai distraído com o telemóvel,( dando a ideia de que vai a jogar). Já a meio do percurso
a rapariga pediu para parar porque estava muito mal e queria vomitar. O motorista parou e ajudou no necessário, o companheiro continuou com o telemóvel como nada estivesse a acontecer. Já mais calma, entrou na viatura. O condutor deu-lhe um saco plástico para qualquer outra eventualidade.
Mais alguns minutos de viagem, e uma nova paragem, a jovem continuava com problemas, estava a vomitar novamente e o Senhor tentava ajudar no possível. Mas,,, mas entretanto, o rapaz também sai para urinar e de imediato cai por uma ribanceira abaixo, o Motorista (pessoa muito consciente e paciente) diz à miúda para esperar um pouco e vai em socorro do rapaz, que estava realmente uma "lástima", ajudou-o a vir para cima. Ficou com um em cada lado, com alguma dificuldade lá os meteu no táxi.
Foram precisos uns longos minutos até conseguirem indicar onde moravam. Foram muito educados, pediram muitas desculpas por todo o trabalho que tinham dado, pagaram e lá se foram…

ASSALTOS E SEGURANÇA
O problema dos assaltos e da segurança, na verdade já não é só um problema dos táxis, infelizmente tem-se vindo a verificar em muitos outros sectores, no entanto e por força das circunstâncias sentimos a obrigação de falar especificamente do nosso.
O Março foi mais um mês farto em assaltos, uns a nível nacional devidamente noticiados pela comunicação social, outros a nível local (Porto) o qual destacamos o rt 185, que após partir da postura do S.João, foi assaltado no local de Pêgo Negro, felizmente fisicamente não teve problemas, no entanto é de salientar que após alarme dado pelas centrais, muito poucos colegas estiveram solidários.
È motivo mais que suficiente para voltarmos a falar de segurança. Conscientes da sua problemática, nomeadamente a existência de salutares divergências e elevados custos, continua a ser necessário estudar e encontrar as melhores soluções para este tão grave problema.
Fazemos um apelo à ANTRAL (a maior associação do sector) para que seja criado um grupo de trabalho local e permanente, com o objectivo de analisar todos os assaltos e posteriores medidas. PELA VIDA DOS NOSSOS PROFISSONAIS.


À CONVERSA COM…
- Ó Manel (mais conhecido por Durães), já andas nos táxis à muitos anos, naturalmente tens "montes" de histórias para contar.
- Henrique! Nesta profissão não faltam histórias.
- Então tens de contar alguma!
- Sei lá…assim de repente… estou a lembrar-me de uma que não esquece;
" Uma senhora, já com alguma idade, vinda das camionetas de Alexandre Herculano, entra no meu táxi na postura da batalha, e quer ser transportada para o Marco de Canavezes.
Durante a viagem a senhora foi contando algumas peripécias da sua vida, nomeadamente que estava a chegar da Alemanha via Lisboa.
Chegamos. Local muito agradável, com um grande lote de casas modernas e um belíssimo largo mesmo em frente. A senhora sai da viatura e diz:
- Isto que o senhor motorista está a ver é tudo meu. E agora vai aguardar um pouco que vou a casa da minha filha buscar dinheiro para lhe pagar.
Em virtude da idade da Senhora e da sua postura durante a viagem, nunca me passou pela ideia de vir a ter problemas. Mas enganei-me.
Esperei algum tempo, entretanto um vizinho diz-me que já é normal aquela situação e que os táxis acabam por ir embora. Eu não estava na disposição de me render à evidência assim com tanta facilidade e como tal, fui ao posto da GNR.
Bati à porta, atende-me um agente e quando lhe vou a contar diz Ele:
- Já sei do que se trata, essa Senhora é sempre a mesma coisa, mas a esta hora (cinco da manhã) não é possível, lá para as sete eu vou com o senhor motorista.
Após esperar duas horas, eu e o referido Agente fomos à respectiva residência, bateu à porta a primeira vez, nada, a segunda, nada, até que à terceira o guarda disse (em voz alta) para abrir a porta, e lá vem a Senhora.
- Está aqui o Motorista de táxi que quer receber a corrida!
- Ai! Adormeci, Mas eu não lhe paguei? Peço desculpa, mas de facto adormeci, eu vou pagar!
Recebi o dinheiro, fui persistente, Segundo o agente é normal a Senhora criar esta situação, Mas Porquê?"
- Estou a lembrar-me de um outro episódio que também é de salientar
" Postura do castelo do queijo, uma miúda aparentemente bem parecida, pede para ir è zona residencial de prelada, mas que era para esperar um pouco porque ia buscar a mãe para a levar ao hospital. No decorrer da viagem e depois de alguma conversa, do cheiro que transmitia, da falta de dentes etc., analisei de que se tratava de uma pessoa toxicodependente, o que me levou logo a alguma desconfiança.
Em meu entender, ficticiamente fala ao telefone dando a entender de que já não é necessário ir a casa da mãe, e diz:
- Senhor motorista já não vamos para a prelada, vamos a um outro lugar para ir buscar dinheiro para lhe pagar.
- Tudo bem menina, mas tem de me deixar algo, até pode ser o telemóvel.
- (aos berros) você está a desconfiar de mim? Olhe que nunca nenhum seu colega me fez isto! Ouviu? Você é o numero tal, isto não fica assim.
- Então vou chamar a polícia.
- (aos berros e num tom incrível) Se chamar a polícia, rasgo a minha roupa toda e digo que me queria violar e agredir.
Como devem de calcular e mesmo já com alguma experiência, fiquei completamente gelado com este tipo de comportamento. Após alguns segundos insultei-a e deixei-a ir embora, ficando sem o dinheiro da corrida.
Posteriormente verifiquei que deixou ficar alguns materiais que serviam para usar no consumo de droga. Decidi ir a uma esquadra e contar-lhes o que se passou, e o que me poderia ter acontecido se tudo se tivesse consumado. A polícia só me informou de que se Ela apresentasse uma queixa, só em julgamento o juiz teria que decidir. Ao que estamos sujeitos."


A TER EM ATENÇÃO
Um Casal de idosos, entraram na postura do Carvalhido com destino ao hospital de Santo António, até aqui tudo bem.
Já na rua de Oliveira Monteiro o Fernando apercebe-se de um barulho estranho e de imediato pára o táxi. Vê o Senhor deitado contra a porta do seu lado direito e sem sentidos ,a Senhora por sua vez, fica a chorar sem saber bem o que fazer. O motorista fica durante um ou dois segundos sem fala, mas entretanto pergunta se é para seguir urgente para o hospital a que responde afirmativamente.
Piscas ligados, buzina a tocar e em menos de quatro minutos dão entrada no serviço de urgência. O Fernando sai do táxi pede uma maca, e de imediato foi atendido.
Mas é de salientar, o agente de serviço chamar a atenção do motorista de que não podia transportar o utente naquela situação, deveria ligar para o 112. È evidente de que o mesmo lhe explicou a situação e já que estava muito perto do hospital, chamar e não chamar o 112 ainda demorava mais tempo. As pessoas que ali se encontravam apoiaram a atitude. Felizmente tudo acabou por correr bem, inclusive o referido Senhor, está a tentar contacto com o condutor para lhe agradecer.
O nosso alerta, e após este exemplo, vai no sentido da máxima atenção para estes casos, e contactar antes de mais o 112, até para ocasionalmente tirar eventuais dúvidas, e naturalmente seguir os conselhos dados por aquele organismo.


CRÓNICA
Nesta "antiga, mui nobre, sempre leal e invicta" cidade do Porto, dá-me prazer trabalhar como taxista e desfrutar da beleza paisagística reinante em diversos locais. Um desses locais é a zona da Ribeira, com a Sé Catedral lá no alto a pontificar e o Monte da Pena Ventosa e invocar os cavaleiros gauleses, como Vimara Peres e o pai do D.Afonso Henriques, o Conde D.Henrique, que, no dealbar do séc.X desembarcaram no PORTUS CALE para pelejarem e expulsarem o invasor árabe, ou, dito de um modo eufemístico, continuarem a Reconquista Cristã.
A zona da Ribeira é-me muito querida, mas devo chamar a atenção para um pormenor que, na cultura portuense, está muito difundido, e que é um erro (ou será que sou eu que estou enganado?): é que, em bom rigor, a Ponte D.Luís I não foi construída por Gustav Eiffel. Quem construiu a Ponte D.Luíz I foram os operários sob a orientação científica de engenheiros discípulos de Eiffel, pertencentes à mesma sociedade comercial de engenheiros do autor da Torre Eiffel em Paris, em meados do
séc.XIX.
João Manuel Vitorino Seixas


O NOSSO JORNAL
Em primeiro lugar, agradecer a todos quanto têm contribuído para o enriquecimento deste jornal (zinho), seja a nível cultural, seja na sua própria divulgação. De salientar a especial e frutífera colaboração do jovem César Soares a este pequeno projecto.
Desde o início do Ano estamos com uma tiragem de 500 exemplares, graças ao patrocínio do Externato Académico, só assim foi possível chegar a um maior numero de leitores, ultrapassando mesmo os nossos objectivos.
O Club Motoristáxi, que quer fomentar a; amizade, confraternização, entretenimento, uma boa ocupação dos tempos livres e contribuir para uma melhor imagem da nossa profissão, tem já algumas adesões. Estamos calmamente a criar a organização e respectivas estruturas, necessárias para iniciarmos todo o processo.
Naturalmente continuamos a aguardar a participação de todos os leitores, que para o efeito, devem fazer chegar até nós as suas histórias e episódios mais relevantes ou mesmo notícias que achem pretensiosas. BOM TRABALHO!



POEMA


JOSÉ AFONSO
(1929 – 1987)
"A Mulher da Erva"










"Velha da terra morena
Pensa que é já lua cheia
Vela que a onda condena
Feita em pedaços na areia

Saia rota
Subindo a estrada
Inda a noite
Rompendo vem
A mulher Pega na braçada
De erva fresca
Supremo bem

Canta a rola
Numa ramada
Pela estrada
Vai a mulher
Meu senhor
Nesta caminhada
Nem m'alembra
Do amanhecer

Há quem viva
Sem dar por nada
Há quem morra
Sem tal saber
Velha ardida
Velha queimada
Vende a fruta
Se queres comer

A noitinha
A mulher alcança
Quem lhe compra
Do seu manjar
Para dar
À cabrinha mansa
Erva fresca
Da cor do mar

Na calçada
Uma mancha negra
Cobriu tudo
E ali ficou
Anda, velha
Da saia preta
Flor que ao vento
No chão tombou

No Inverno
Terás fartura
Da erva fora
Supremo bem
Canta rola
Tua amargura
Manhã moça...
nunca mais vem"

SUMÁRIO:
*Jovem casal
*Assaltos e segurança
*À conversa com…
*A ter em atenção
*Crónica
*O nosso jornal
*Poema
*Monumentos

FICHA:
*Responsável: Henrique Teixeira
*Colaborador: César Soares RT 190
*motoristáxi@hotmail.com
*Tel:918554944 PORTO
*500 exemplares

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