terça-feira, 21 de julho de 2009

JORNAL MOTORISTÁXI Nº 12 - EDIÇÃO ESPECIAL ANIVERSÁRIO


1º ANIVERSÁRIO

A brincar, a brincar podem fazer-se coisas muito sérias. Foi essa a intenção deste jornal, que em Julho de 2008 iniciou a sua actividade.
Os objectivos continuam a ser os mesmos: Primeiro, falar e divulgar sobre os vários comportamentos dos nossos clientes, que todos sabemos não ser tarefa fácil. Segundo, continuamos com a ideia de que existe espaço suficiente para fomentar a discussão na praça pública sobre os vastos problemas com que se vai deparando a nossa profissão. Terceiro, queremos contribuir para uma maior dignificação da nossa classe.
Naturalmente não podemos agradar a todos, o que é uma situação perfeitamente normal. No nosso sector também existem vários "GRUPINHOS" que inconscientemente, por vezes conscientemente, só têm como principal alvo dividir para governar.
Nós queremos continuar a ser; coerentes, humildes e simples. Não temos qualquer pretensão de enveredar pelas situações técnicas e jurídicas, isso faz parte das obrigações e deveres das respectivas associações do nosso sector.
O nosso "Jornalzinho" está mais virado para o entretenimento e para a divulgação de pequenas notícias que mais ninguém quer dar a conhecer. Queremos ser diferentes, só assim se justifica.

UMA URGÊNCIA

O Agostinho Almeida (ex 5 da RT e actual 96 da Invicta) conhecido pelas suas características positivas em responder à central, esteve à conversa comigo na postura da Ramada Alta. Começou por dizer que não tinha nada de especial para contar como motorista, no entanto e à medida que fomos dialogando, repentinamente e sem dar por isso, está a descrever um episódio passado à vários anos e fá-lo de maneira tão emocional e sensível, que não resisti em transmitir aos nossos leitores toda essa simplicidade.
" Uma chamada para a travessa de S. Diniz. Tratava-se de uma Senhora grávida, muito aflita e que pediu para a transportar de urgência ao hospital de S. João. À frente sentou-se um Senhor que era seu pai, também muito nervoso, muito educado e que repetiu o destino do serviço. O Agostinho, liga os quatro piscas, concentra-se na sua tarefa, buzina a funcionar e aí vai Ele.
Quando tudo parecia estar a decorrer normalmente, apesar dos constantes gritos de dor da Senhora, eis que o trânsito estava completamente parado na rua de Monsanto mesmo a chegar à praça 9 de Abril. O motorista já nervoso, continua a buzinar, o pai já estava a ficar completamente "fora de si" e a Senhora sempre com os gritos de dor. Como sair daquela embrulhada?
O Agostinho consegue fugir para a faixa da esquerda, o trânsito estava completamente parado, os automobilistas fazem os possíveis e impossíveis para possibilitar a passagem do táxi. A única alternativa foi subir o passeio, avançar para o meio do jardim de arca d’água e depois de percorrer todo o jardim (sob o olhar atónito da polícia a até de transeuntes) finalmente chegou à rua Leonardo Coimbra (ainda com dois sentidos) e rapidamente ao referido hospital.
O táxi ainda não tinha parado já o nosso amigo estava a dizer ao pai da Senhora:
"- Ó homem vá depressa buscar uma maca para a sua filha!" Só depois recebeu a corrida.
Fantástico foi de facto a forma como o Agostinho contou este episódio: - E se a Senhora tinha o bebé na viatura? - Como podia eu ajudar se não sabia como? - Enfim… correu tudo bem.

FORMAÇÃO AO GPS

Em Janeiro de 2009 no nosso jornal nº7, escrevemos sobre a instalação do sistema GPS na Rádio Táxis Invicta, ao qual sempre demos o nosso particular apoio e continuamos a dar com muito entusiasmo. O último parágrafo dizia " Naturalmente, e dizemos nós, tudo se irá processar inicialmente, com prazos de experiência e adaptação. Não se espera tarefa fácil para os responsáveis, assim como também para os utilizadores, é necessário um tempo real para uma boa aprendizagem, e principalmente a compreensão de todos".
Na maioria das viaturas já se pode ver os respectivos monitores, uns com mais, outros com menos capacidades. Perante esta primeira situação, verificamos um enorme grau de dificuldade, por parte de Motoristas, em manusear o referido aparelho.
Em nossa modesta opinião, faz todo o sentido (como sempre fez) efectuar previamente uma FORMAÇÃO ESPECÍFICA muito principalmente para quem tem mais dificuldades. Embora um pouco trabalhoso (e sem trabalho nada se faz), não é nada difícil fazer no mínimo um rastreio dos casos mais difíceis e individualizar essa formação.
Infelizmente ainda há quem pense de que não precisa de formação para nada porque já sabe tudo, sendo isso sinónimo da própria ignorância, pois estamos sempre a aprender. Os responsáveis, em princípio pessoas mais esclarecidas, têm o dever e a obrigação de perceber a situação e criar condições para resolver atempadamente todos os obstáculos.
A FORMAÇÃO É TÃO IMPORTANTE COMO INDISPENSÁVEL.

Parabéns Motoristáxi!

Nesta Edição Especial Aniversário do nosso jornal decidi fazer um balanço do primeiro aniversário deste projecto. Após doze edições, noto que as reacções foram diversas. Obtivemos reacções bastante positivas, menos positivas e até inqualificáveis.
Para todos aqueles que reagiram positivamente, lendo e participando no nosso Jornal, para os que consideram que o Jornal Motoristáxi podia melhorar, que apresentaram as suas críticas construtivas e as suas sugestões, contribuindo para o engrandecimento do Jornal Motoristáxi, o nosso muito obrigado.
Para aqueles que reagiram de um modo ignóbil, desprezando e rejeitando sem motivo aparente este projecto e criticaram destrutivamente o trabalho do núcleo Motoristáxi, aqui fica uma única advertência: O JORNAL MOTORISTÁXI NÃO É LEITURA OBRIGATÓRIA.
Gostaria também de agradecer á direcção do Externato Académico, que nos continua a agraciar com o seu apoio, contribuindo grandemente para o sucesso do nosso projecto.
Como não poderia deixar de ser, tenho ainda de agradecer ao Sr. Henrique Teixeira, autor desta ideia e responsável por todo o trabalho necessário para a publicação mensal do Motoristáxi. Sem o seu trabalho e dedicação, tudo isto seria impossível.
Durante estas doze edições, foram abordados diversos temas, elaborados suplementos sobre o Táxi, dos quais gostaria de destacar "A Última Viagem de Táxi", que obteve diversas reacções todas elas muitíssimo positivas. Espreitamos os principais monumentos da cidade do Porto e vagueamos pela poesia. Visitamos o futuro através da Astrologia, um pouco "invulgar", cortesia do Professor MAYO!
O que desejo para as próximas doze edições, é que haja mais envolvimento por parte dos colegas que ainda não participam no nosso "grupo de amigos", a que se chamou Jornal Motoristáxi!
César Soares RT190

DIFÍCIL SERVIÇO

O Fernando Vieira estava na postura do Carvalhido, parou um veículo com três pessoas, só uma entrou no táxi. Tratava-se de uma senhora, em razoável estado de embriaguez, que se fazia transportar com duas grandes malas.
- Quero ir para perto da cadeia de Custóias!
Entretanto e já em viagem recebe uma chamada telefónica, (suposto namorado), que lhe estava a dar indicações sobre o local de destino. Eis que chegaram ao referido local e ela pergunta:
- Para onde me levas?
- Para onde me mandaste! Aliás já estamos no local.
- Agora mandas em mim?
- Não mando, simplesmente estou a trabalhar.
- Leva-me para um ponto de táxis. Depressa!
- Olha, está aqui um, mas não tem carros.
Deslocou-se até ao padrão, mas também não havia táxis.
- Então leva-me para o Marquês
- Tudo bem, vamos embora.
No campismo e ao verificar que estavam dois colegas, de imediato parou a viatura, recebeu a corrida e tirou as malas. O Fernando já estava saturado de a ouvir falar, a senhora não havia meio de se calar. Mas o problemático episódio iria continuar, uma vez que ambos os colegas recusaram efectuar o serviço.
A alternativa foi carregar novamente as malas e seguir novamente com a cliente. Ela telefona para a amiga que a tinha levado à postura, e assim seguiram para a rua do lugarinho.
Falaram, discutiram, zangaram-se e lá veio outra vez para o táxi.
- Leva-me daqui para fora!
- Para o Marquês?
- Não! Para Custóias.
- Então andamos a brincar? Decide de uma vez por todas para onde queres ir.
- Leva-me para Custóias, quem manda sou eu!
Seguiram para Custóias, já no local recusa-se novamente a lá ficar. (e quando se trata de pessoas embriagadas não é nada fácil)
- Olha leva-me a Braga, eu tenho dinheiro e até te pago adiantado!
- Que remédio, se tiver que te levar, eu levo-te!
Mas tudo parece complicar-se com novo diálogo próprio de quem não sabe muito bem o que quer. Foi quando o Fernando lhe disse:
- Se não sabes o que queres vou levar-te à GNR.
- Então acabou e deixa-me aqui!

Completamente exausto, o Fernando acedeu à sua vontade e deixou-a ali mesmo, no meio da estrada com as inesquecíveis grandes malas. Pouco tempo depois voltou local, mas já não estava lá ninguém.
Mas que serviço!

GRIPE A
Uma notícia publicada no Jornal de Notícias, onde dizia que as “empresas de transportes, atentas à pandemia, têm planos de contingência”. Referenciava O Metro de Lisboa, o Metro do Porto, Comboios de Portugal, Transdev, Carris, STCP, TAP e Transtejo, até aqui tudo bem.
E então o Sector dos Táxis? Está imune? Que plano para os milhares de motoristas que transportam e que plano para os milhares de clientes que são transportados em todo o País?
Não sou nada pessimista, e por isso, quero acreditar de que os nossos responsáveis estão atentos a esta situação, e que por lapso não fomos informados.

AGRADECIMENTO

Também queremos agradecer de uma forma muito especial, a todos quanto têm contribuído, para que seja possível este jornal chegar a um maior número possível de leitores.
Estou a referir-me concretamente a quem distribui.
Parece mas não é tarefa fácil! É necessário ter iniciativa própria, espírito de entreajuda, e sensibilidade para com os problemas que afectam o nosso sector. Obrigado.

SEGURANÇA
ASSALTOS
FALTAS DE PAGAMENTOS

Durante este primeiro ano abordamos este tema sete vezes, e porquê? Porque de facto é nossa convicção de que se trata de uma realidade muito séria, de um assunto que merece ser a prioridade das prioridades.
Temos consciência das dificuldades na resolução deste problema, no entanto, e uma vez que falamos da defesa e integridade física de todos os motoristas, vamos continuar a escrever sobre a nossa insegurança, dando a nossa opinião, e avançando com propostas que consideramos construtivas.

HISTÓRIAS COM UTENTES

Um dos grandes objectivos do nosso Jornal, é transmitir episódios reais que de uma forma ou de outra, todos somos protagonistas.
Foram trinta e cinco, as histórias que escrevemos durante estes doze jornais. Existe de tudo, desde as mais caricatas até às normalíssimas, mas que demonstram a nossa realidade.
Queremos a vossa colaboração, queremos contar as vossas histórias, estamos completamente disponíveis para o trabalho.

EFICAZ APARATO DA PSP

Vinte e seis de Fevereiro de 2004, por volta das vinte e uma horas, na Rua Fernandes Tomás com a Rua de Santa Catarina, entrou-me no táxi um indivíduo de raça negra, sentou-se à frente, trazia consigo duas sacas plásticas, pediu para o transportar à estação de São Bento e que "depois falava comigo".
Tratava-se de uma pessoa alta e forte, quando me diz, "depois falava comigo," já estava a pensar no que haveria de dizer, porque realmente não iria para outro lugar com aquele passageiro, uma vez que aparentemente não me oferecia confiança.
Entretanto, lá segui rumo à estação de São Bento, desci Fernandes Tomás, virei por Sá da Bandeira, Dom João I em direcção à avenida dos Aliados. Nos semáforos da Avenida (ao lado do Rivoli) tenho de parar porque está vermelho, e enquanto estamos parados passam dois carros patrulha subindo a Avenida em grande velocidade, ao ponto de eu fazer um comentário em voz alta, não obtendo qualquer reacção.
O semáforo passa para verde, arranco, e quando estou a chegar ao outro lado da Avenida (mesmo em frente ao café guarani) para meu espanto vejo uns tantos agentes policiais a mandar parar o táxi e verifico que o trânsito está cortado do lado direito por um carro patrulha. Quando paro o veículo, apercebo-me de uma quantidade de polícias de armas apontadas, fiquei sem pinta de sangue, em breves segundos pensei: Que tipo de cliente é que eu transporto? Qual vai ser a sua reacção? Muito determinados, dois agentes dirigem-se para o lado do cliente, surpreendentemente a porta abre com muita força, era um terceiro agente que não tinha visto, simultaneamente os outros dois de armas apontadas ao indivíduo, e em voz muito alta mandam-no sair de mãos no ar. Ele sai calmamente, de imediato os agentes revistam-no e algemam-no, ao mesmo tempo que um agente a meu lado diz para eu ter calma, que já está tudo resolvido.
Mais parecia um filme policial, mas não era.
Já o tinham levado, quando perguntei ao agente o que se tinha passado, "um assalto à mão armada", o meu pensamento foi logo para o tipo de pessoa que transportava, tive sorte.
Fui para a então postura da Praça da Liberdade, comentei com os colegas o episódio. E já muito mais calmo fui fazer um serviço a Campanhã. È quando a rádio táxi chama, para me dirigir à esquadra do Infante.
Fui para o local, queriam verificar se eventualmente o assaltante tinha deixado na viatura alguma arma, uma vez que não a tinham encontrado. Pessoalmente estava convicto de que não tinha atirado qualquer objecto, caso contrário teria dado por algum gesto.
Mas ainda não tinha terminado, por volta das vinte e quatro horas, fui notificado via telefone para comparecer nas instalações da polícia judiciária, onde estive a prestar declarações.
Alguns meses depois, fui convocado pelo tribunal como testemunha, o julgamento realizou-se e foi condenado.

NÃO TÊM PARA ONDE IR

Já lá vão talvez uns quinze anos.
Vou a circular livre na rua de Cedofeita, uma senhora faz-me paragem, parei, a porta de trás abriu e entram quatro crianças mais a mãe.
As idades aparentavam ser muito seguidas. A senhora diz-me que não tem para onde ir com os filhos, e pede para a levar a um local onde possam ficar pelo menos a noite.
Não calculam como fiquei, não sabia muito bem por onde começar, mas uma coisa era certa, não podia abandonar aquela dramática situação.
Como estava perto, comecei por um albergue que havia ali perto na rua da Vitória, lá fui falar com uma senhora, que acabava de me informar não ter lugares disponíveis, mas deu-me algumas indicações para onde me dirigir.
Fui a mais um local, mais outro, mais outro e nada, entretanto já faz umas três horas que ando com os clientes.
As crianças estão irrequietas, choram e precisam de comer qualquer coisa, fui arranjar umas bolachas, pão e leite, e dei-lhes, foi assim que sossegaram um pouco.
Sem conseguir resolver o problema, fui a uma esquadra da polícia e expus a situação. Depois de várias chamadas telefónicas, foi-me comunicado de que finalmente tinham encontrado um local para as crianças e a mãe ficarem.
Claro que não recebi a corrida, mas podem crer, no final estava muito feliz por dever cumprido.
Sumário
  • 1º Aniversário
  • Uma Urgência
  • Formação ao GPS
  • Parabéns Motoristáxi
  • Dificil Serviço
  • Gripe A
  • Agradecimento
  • Segurança, assaltos e faltas de pagamento
  • Histórias com utentes
  • Eficaz aparato da PSP
  • Não têm para onde ir